Então, o Paulo me mandou esse texto onde a pessoa fala que não gostou do final de The Legend of Korra:
http://avatarskorra.tumblr.com/post/106040624263/ikkinthekitsune-bryankonietzko-korrasami-is
E eu tenho que falar: pessoa, você está falhando em ver metade dos temas da série.
Sabe o que é? É que korra é uma série cheia de camadas, você pode ver de várias perspectivas. Você pode ler como uma história que tenta quebrar paradigmas de histórias, você pode ver da perspectiva do que significa ser o Avatar no mundo, você pode ver o que significa para o desenvolvimento da pessoa Korra (e aí você multiplica isso por 3 porque ainda tem que ver do pov da Asami e do pov do Mako), você pode ver da história da temporada em si, você pode ver do arco de todas as temporadas, você pode ver da relação entre as personagens, você tem que lembrar do fato de que a série passa no nosso mundo real sob certas condições e ainda dos seus sentimentos em relação ao que acontece.
Para ver tudo, você tem que ficar igual um maluco focando em detalhes, e depois vendo o panorama geral, e juntando tudo isso. Na maioria deles a relação é ótima, em outros nem tanto, em outras simplesmente por não estar prestando atenção nesse aspecto fica mais difícil ver. Eu tive a maior dificuldade de entender como a Asami poderia gostar da Korra, precisei reassistir personagens e escrever 9289328 textos para chegar a uma conclusão. Mas algumas pessoas se prendem a certos aspectos, o que é ok, mas eu não to aqui assistindo 4 temporadas de uma série que eu amo por anos para procurar algo ruim. Então, caso você queira ver o que tem de bom, aqui uma mini-análise:
Final de TLOK como uma história subversiva: final ótimo. A representatividade LGBT+ era a única que faltava no mundo Avatar, e eles fizeram isso de uma forma que valida a existência dessas pessoas de uma forma ótima. Inclusive, o fato de não ser muito clara a relação Korrasami e a relação Makorra está a favor desse final. Mostrou também que amizade entre homem e mulher existe (Makorra), e mais um monte de coisas que você pode ver nesse texto. O único ponto negativo, eu diria, é que a Korra é o nosso único exemplo de super-heroína que quebra barreiras sexistas sendo uma garota tomboy musculosa e ela em uma relação bissexual reforça o estereótipo de mulher que se atrai por mulher tem que ser igual ao homem (ainda com Asami, reforça a visão de casal feminino-masculino). Mas essa série faz tanto por outros lados, que não dá pra destruir isso.
A jornada no Avatar no mundo: final condizente e bonito. Nesse post eu explico como a relação com a Asami faz sentido para jornada do Avatar, mas não só a Asami, todo o final, a forma como lidar com a Kuvira e aprender a ter compaixão. Vamos lembrar que o final da história não é só aquele aperto de mãos. Aliás, Korra conta tantas histórias, que temos final desde a primeira temporada – final do Amon. Na terceira temos o final do Bumi. No primeiro episódio da 4ª temporada temos o final do Kai. Como eu disse no post, você pode esperar um final diferenciado para o Avatar, alguma desconstrução sobre o signficado do Avatar no mundo, porque esse é um tema bem presente em todas as temporadas, ainda mais que se relacionada profundamente com a história da Korra como pessoa. Nessa linha da história, não diria que foi um final épico bombástico, mas foi sincero e bonito.
Desenvolvimento da personagem Korra: um final muito bom. Algo que eu percebo agora, é que na primeira temporada ela começa lutando para poder dominar o ar (a dobra mais espiritual, “é algo que não vem natural pra mim quanto a parte física”) e sai a força para Republic City. A história termina com uma Korra mais sábia indo por vontade própria como guia de Asami para o mundo espiritual. Tem noção do quanto isso é uma transformação incrível? Ainda mais se você lembrar o que eu disse no post sobre a história do Avatar, que a Asami é a representação do mundano que completa a Korra. Termina literalmente com a Korra levando a “parte física” para o mundo espiritual.
Desenvolvimento Asami: médio, mas só por falta de protagonismo. Ela é uma personagem boa, mas não enfrenta tantos dilemas quanto Korra ou até mesmo Mako ou Tenzin. Se alguém quiser, eu faço uma análise, mas vou me proibir de fazer isso agora.
Desenvolvimento Mako: muito bom. Esse é um personagem que tem mais protagonismo, carregando storylines sozinho, então a conclusão dele também está à altura. Não vou fazer análise também, tinha um post ótimo no tumblr, mas não consegui achar no meio dos outros 92389238239823 que eu rebloguei nos últimos dias. Então vou deixar aqui http://danagrint.tumblr.com/post/105618685743/staticwaffles-okay-but-can-we-talk-about-this
A história da temporada: final muito bom. Basta dizer que o começo da Korra é em um episódio chamado “Korra alone”, ela luta com empatia e a falta de conexão com os outros, e termina de mãos dadas com a pessoa que decidiu aprender a perdoar.
Final de todas as temporadas: muito bom. Qual é o arco principal de The Legend of Korra? Acho que é muito parecido com o que eu disse em “jornada do Avatar”. Porque a história das temporadas é sobre como Korra decide lidar com o mundo em que vive, e a forma que ela decide lidar com o mundo em que vive é a jornada do Avatar. Parece a mesma coisa, mas é diferente. Pra jornada do Avatar, talvez o final pudesse ser diferente, como eu disse no post. Mas pra história das temporadas, é um final muito bom. (se não ficou claro, posso explicar melhor)
Relação Korrasami: bonito e delicado. Eu já fiz um post completo sobre isso e esse outro que é um resumo de como elas se completam.
Em relação ao mundo real: muito bom. Talvez o único erro do Bryan e do Mike foi pensar que não poderiam mostrar uma relação LGBT+ mais explícita até chegar esse ponto no final em que era a última chance e eles decidiram arriscar, mas eu sou grata por eles decidirem lutar pelo que queriam na história. Também sou grata à relação korrasami que os obrigou a lutar por isso. O Bryan explica isso aqui. Esse post sobre Korrasami explica a dificuldade de mostrar algo assim na TV.
Em relação a sistemas de governo/ideologias: médio. Não to com muita paciência pra falar disso agora, mas a série aborda muito isso ao longo das temporadas e é uma perspectiva relevante.
Como entretenimento puro: 80%. É muito bom, apesar de em alguns momentos da história/temporadas esfriar um pouco, mesmo que o conteúdo seja sempre interessante.
Como história: 90%. Em questão de narrativa e tal. Eu acho quase perfeito, ainda porque eu dificilmente vejo tantos personagens tão bem desenvolvidos em uma história. Mas eles realmente correram com algumas coisas que poderiam ser melhores. E como tem muito simbolismo, algumas coisas ficam simplistas. Em alguns pontos é igual Frozen: drama de um filme inteiro pra “oh, é verdade, era o amor verdadeiro!” *tudo se resolve* Mas acho que isso nem é um problema da história, mas uma limitação do estilo de história and we gotta deal with it. 😦
Em relação ao que você sente: daí vai de cada um. Eu fiquei arrepiada e com lágrimas nos olhos só de ver o trailer da 4ª temporada. Eu ri, chorei, agarrei a cadeira de nervoso e aprendi muito com essa história. Essa é uma daquelas histórias que eu entrei sendo uma pessoa e saí sendo outra. E mesmo agora continuo aprendendo e ela continua me ensinando a ser mais quem eu quero ser. No final, eu não queria que Makorra acontecesse, não parecia certo, mas eu estava aberta a qualquer final que a Korra teria, o que eu realmente queria saber era qual resposta ela daria para o papel do Avatar no mundo (e isso ela deu. e foi lindo. e eu já falei sobre isso). No entando, eu descobri que em algum lugar no meu subconsciente eu queria que korrasami acontecesse. Eu não estou nem brincando. Eu gosto da Makorra, se você ver meu tumblr vai ver que eu rebloguei algumas fanarts deles juntos nas últimas semanas (me preparando para o final). Mas no fim do episódio quando eles se encontram, eu fiquei com medo de que terminasse assim. Mais do que isso: eu me vi torcendo para a Asami aparecer e interromper. Onde está a Asami? ASAMI. Não foi para o Bolin interromper, a Jinora ou um novo interesse romântico, foi para a Asami aparecer. E quando mudou de cena e o Tenzin apareceu, apesar de um pouco aliviada, eu fiquei decepcionada porque não era a Asami. Eu não controlei nada desses sentimentos, assim como outras pessoas devem ter assistido sem se importar com o que estava acontecendo. Me controlei menos ainda na conversa final entre Tenzin e a Korra, que ainda hoje, 5 dias depois, só de ver um vídeo reaction me fez começar a tremer e chorar. Não consegui nem ir até o final e ver korrasami acontecer. Aliás, desde sexta eu só assisti todo esse trecho em sequência uma vez (a primeira), porque o meu peito começa a doer, quero chorar e eu sinto que vou desabar outra vez como na primeira. Eu nunca fiquei assim com nenhuma história. Eu chorei, sim, diante de morte de personagens. Mas eu nunca tinha ficado tão desolada com o fim de uma história. Não era nada do que estava acontecendo ali, aquilo era ok, era o fato de que eu estava dando adeus a algo extremamente importante na minha vida. Eu espero que você, algum dia, se conecte com alguém ou alguma história dessa forma. É lindo. E não termina aí, que enquanto eu me segurava mais alguns instantes para não desabar, eu via korrasami acontecer de verdade. Uma surpresa incrível. ELES ESTÃO FAZENDO MESMO ISSO. É REALMENTE ASSIM QUE A HISTÓRIA VAI TERMINAR. Eu continuo acordando no meio da noite ou me pegando em um monte aleatório do dia sorrindo igual a uma idiota. Sorrindo porque a história me enche de esperança. Aquele final, além da pilha de significados para a minha vida e como uma história qualquer, provou que é possível mudar o mundo real. Para quem está de fora é difícil enxergar, provavelmente vai ser difícil para quem começar a assistir agora conseguir enxergar, mas pra isso você está lendo esse texto, não é? Para dar uma volta com os meus olhos por um instante e conhecer uma nova versão do mundo. E eu te digo: daqui The Legend of Korra é incrível, alterou a forma como o mundo funciona e com uma cena validou a existência de milhares de pessoas.
Em relação a: sei lá. Você pode ler uma história de mil formas. Todas essas leituras são válidas. Mas acho importante pelo menos saber que há outras formas de ler a mesma história e que em vez de ficar brigando com o que é certo e o que é errado você tem a opção de buscar mais. Ninguém pode dizer que o que você sente não é real pra você, porque é, mesmo que não seja baseado na realidade ou exista outras interpretações. Para quem não tem capacidade de ler certos livros.
esqueci de colocar os links no texto, mas são esses:
http://www.conversacult.com.br/2014/12/por-que-e-importante-voce-assistir.html
http://www.conversacult.com.br/2014/12/por-que-aquele-finalzinho-de-legend-of.html
http://www.conversacult.com.br/2014/12/asami-e-korra-ao-longo-das-temporadas.html
https://houseofvic.wordpress.com/2014/12/23/collected-thoughts-on-korra-asami/