Enquanto eu assistia o episódio S05E09 The Dance of Dragons de Game of Thrones eu fiz algumas anotações. No whatasapp. Na verdade, comparei a Jogos Vorazes, refleti sobre a violência e terminei numa crise existencial. HAUHAUHAUH Então decidi compartilhar o resultado disso aqui.
O episódio tem um slutshaming nojento pra variar, e não me surpreenderei se a garota lá das Sand Snakes trair todo mundo, ou morrer no processo, ou mostrar que usar o corpo pra atrair os homens é ok.
Depois temos Arya jogando Assassin’s Creed.
E aí…
Eles colocam a cena de um pedófilo do lado de uma cena que fala meio que é tudo bem querer não importa o que você queira.
E aí muda pra cena do Stannis decidindo matar a filha em nome do próprio destino.
Depois disso vem a Daenerys em uma arena onde as pessoas lutam até a morte.
O episódio mais Jogos Vorazes da série. Eu gostei.
Eu gosto que eles tenham a ~força~ pra ir fundo na brutalidade e mostrar visualmente o que filmes/séries normalmente não mostram. Eu realmente queria uma história assim. Não porque “ah, adoro sangue”, mas porque também é uma representatividade importante. Nós temos muuuuuuuuuitos filmes/séries distribuindo violência gratuita por aí, poucos vão tão longe como Game of Thrones em mostrar o quanto isso é cruel. Isso inclui o estupro da Sansa. Acho que essa temporada está muito voltada para mostrar esses limites. Antes já tinha coisas horríveis (estupro e tortura do Theon, outros 9328923823 estupros e gente morrendo), só que agora nós temos esse tom de estar no limite da humanidade.
Até que ponto você vai antes de quebrar? O que você está disposto a fazer pra poder sobreviver?
A força-motriz é a dinâmica Sansa/Arya, que no episódio 5 de formas distintas abrem mão de uma parte de si. Mas também temos Jon Snow e Daenarys se balanceando, lidando com o que precisam fazer pra salvar o povo. (interessante que enquanto ele cresce no papel de “defender os reinos dos perigos de fora”, ela cresce no papel de “governar o reino” – dá pra gente ir pra parte que eles dominam tudo juntos, por favor?) Enfim, o que eles precisam fazer pra lidar é abrir mão dos próprios princípios. Dorne eu vou fingir que não existe, mas Cersei e Stannis também caminham pelo mesmo dilema.
Esses questionamentos não são novos. The 100 desenvolve isso, até Sense8, apesar de não mostrarem tão graficamente.
E eu gostaria que não fosse Game of Thrones fazendo isso, porque não tem um bom tratamento por trás dessas questões, do jeito que fazem se transforma mais em um show de violência gratuita.
Mas já que eu passei por isso, vamos aproveitar.
JOGOS VORAZES É GAME OF THRONES NO NÍVEL HARD
Você já reparou que a história de Jogos Vorazes é mil vezes mais grotesco do que essas coisas de Game of Thrones?
É a morte da garota, mas no cenário da arena. Tem pedofilia te o que acontece com a Sansa também.
Até agora eu nem tinha pensado nisso desse jeito. Todos os vencedores dos Jogos Vorazes são menores de idade e são vendidos (para uso sexual) na Capital. Finnick tinha 14 anos quando venceu os Jogos Vorazes. A história dele não é muito diferente do que acontece com a Sansa. Eu não to inventando – as informações estão todas lá, descritas no livro e no filme.
Será que existe uma solução para as coisas sem essa crueldade? Sem precisar fazer pessoas se matarem?
Você consegue escapar da crueldade se tá lutando contra alguém que usa a crueldade como forma de luta?
Você deve deixar a violência acontecer, mesmo que você sinta que foi errado?
Devemos continuar agindo de forma violenta porque sempre foi assim?
Nós estamos eternamente amarrados à violência?
A história mais pacífica que eu lembro é a do Avatar. E ainda assim, a violência aparece. Mesmo que o Avatar escolha não assassinar, diante da violência ele contra-ataca com violência até neutralizar o inimigo. Depois disso, ele tira o poder do vilão (uma pessoa sem poder não pode manter a maldade) e/ou usa a empatia para mostrar pra o “vilão” como está sendo ruim o que está acontecendo.
Existe uma alternativa sem violência?
A violência que alguém faz é reflexo de ter sofrido algum tipo de violência?
Nós podemos tirar a violência da nossa cultura?
Se não, o que isso significa sobre nós?
Jogos Vorazes é meio que a resposta. Enquanto a gente reforçar um pensamento que vale se sacrificar e sacrificar coisas em nome de um bem maior, em vez de encontrar paz a gente encontra mais dor. Toda vez que a gente vilaniza as pessoas em vez do sistema (remember who the real enemy is). Toda vez que a gente se divide entre si em vez de ver o outro como igual. A Katniss quebra o sistema quando começa a confiar nos outros e ajudar os outros. O primeiro livro começa com ela recebendo o pão do Peeta (diga-se de passagem, ele levou um tapa da mãe pra fazer isso e nunca “se vingou” dela). E termina com a Katniss retribuindo dentro da arena e escolhendo morrer por ele com as amoras. Esses tipos de gestos vão se repetindo ao longo da história, inclusive quando ela decide não deixar o ódio pelo Snow cega-la. A Katniss faz o que o Aang e a Korra (Avatar) fazem juntos de uma vez só.
Ela luta e tem violência? Muita. Inclusive, ela não mata o Snow, mas mata a Coin. Só que taí a virada dos livros. Muita gente espera que Jogos Vorazes seja uma história de nós vs. eles, UHUL REVOLUÇÃO YEAAH, só que não é. O primeiro livro começa com a Katniss escolhendo se sacrificar no lugar da irmã. O último livro mostra que que o sacrifício foi em vão (pra irmã). Ela acaba fazendo uma revolução e terminando em uma situação melhor? Sim. Mas não é através da violência que ela faz isso. Se algo uniu o povo, foi quando ela decidiu se unir a Rue e ao Peeta. De quebra, Katniss é completamente destruída no processo e perde tudo o que tinha.
Então não é um: acabou a violência. Shhh. Mas é uma reflexão sobre o custo da violência e uma lembrança de que há alternativa.
Você já tinha pensado sobre isso?
if we burn you burn with us