A Insegurança de mostrar o que escreveu pra os outros

Esse texto era pra ser publicado no Clube de Escrita do ConversaCult, mas… eu tenho muitos textos pra publicar e pouco tempo (e energia) pra publicar todos. 

Outro dia me perguntaram como eu conseguia postar no CC se eu tenho vergonha das coisas. Eu não tenho vergonha de publicar aqui e mostrar pras pessoas o que eu escrevo? Por algum motivo: não. Acho que o meu cérebro não acredita que tem pessoas lendo. Ou é um tipo de texto que eu não preciso de outra pessoa pra ler. Eu sei lá. Eu sei que a maioria dos textos que eu escrevo pra o CC eu nem penso nisso. Mas… isso é uma dúvida que ficou na minha cabeça. E, quando eu fui escrever histórias, tudo fez sentido.

Mais ou menos.

Eu descobri que eu não tenho vergonha de mostrar o que eu escrevo pra os outros, eu tenho pavor. 50 mil palavras no NaNoWriMo? Fácil. Mil palavras pra um amigo ver? Um pesadelo. Eu não fico em um cantinho assustada, é algo pior que isso. Algo que você pode ter sem nem saber. Porque na hora H, esse medo aparece como uma coisa: bloqueio criativo.

A maioria das minhas histórias eu tento incorporar esse espírito de escrita do CC, onde eu foco em fazer o que eu quero independente do que os outros vão falar. Se eu quero colocar o Tony Stark realizando um parto no meio de uma arena de Jogos Vorazes, EU COLOCO A PORRA DO TONY STARK. Se eu quiser escrever diálogos só com as falas, eu escrevo. Se eu não souber descrever uma cena e quiser mandar a real “fulana fez merda, ela ficou puta”, eu posso. Se eu quiser mudar de tempo ou voz a cada 5 segundos, beleza.

Ajuda muito focar que é só o primeiro rascunho e que tudo pode ser melhorado.

Quando eu escrevo assim, o rascunho é uma enorme pesquisa pra entender o que tá acontecendo e, então, depois decidir como retratar. Na edição posso cortar entre metade e tudo o que eu escrevi. Quando esse depois chega… ;x

No rascunho, eu crio o cenário. Na edição, eu tiro a foto.

Dessa vez, eu decidi fazer diferente. Eu quis escrever uma história pequena pra fazer o tema de uma fic que não aconteceu como eu esperava, só pra compartilhar com as minhas amigas. Eu decidi fazer algo que eu nunca gostei de fazer: terminar um capítulo por vez.

Rascunhar. Reescrever. Mostrar.

*morte*

Ainda não mostrei pra elas, e provavelmente vou mostrar só porque eu to pensando em não fazer mais. De qualquer forma, o que eu quero falar é que começou a ficar difícil escrever. Eu to no que é o 5 ou 6 capítulo (são curtinhos), e aí eu não sabia o que escrever.

Veja bem, eu conheço o mundo, eu conheço as personagens, eu conheço os dramas que elas vão passar, eu sei de várias coisas que vão acontecer. Eu sabia, inclusive, o que ia acontecer no capítulo em questão.

Mas o que eu tinha escrito: 800 palavras pingadas com a última frase interrompida na metade tamanha a minha animação.

E mais: eu comecei a gostar dessa história a ponto de eu sentir saudade como se sente saudade de voltar a ler um livro que tá muito bom.

AINDA ASSIM A PÁGINA ESTAVA EM BRANCO.

EU NÃO CONSEGUIA ESCREVER.

EU NÃO CONSEGUIA PENSAR NO QUE ESCREVER.

EU NÃO SABIA O QUE FAZER.

E sabe de uma coisa? É mentira. O problema, pra mim, é que eu tava deixando o meu editor entrar no processo de escrita. Ele tava como um segurança na entrada da página “não, seu nome não tá na lista, essa ideia não, isso é ridículo, esse diálogo pode ser melhorado…” E o pior: Sabe quem faz a lista do que entra e não entra?

O que você imagina que as pessoas vão gostar.

Só que nunca dá pra saber realmente, então não é uma lista prática. É mais pra medo de que tudo esteja uma merda. É a sensação de que eu não sei o que eu to fazendo porque, de fato, eu não faço ideia do que tá acontecendo de acordo com esses parâmetros inexistentes.

Eu não sei escrever assim.

Eu não sei se alguém sabe escrever assim, provavelmente deve ter alguém que sabe, mas não eu.

Toda vez que eu tento fazer algo usando como direção os outros, eu não consigo. Aconteceu a mesma merda com os marcadores do CC, que eu só consegui fazer algo legal quando eu deixei tudo pra lá e fiz o que queria. Aconteceu isso várias vezes já.

Aconteceu durante esse texto, no início, quando eu tentava já escrever preparado pra publicar, e não dava certo.

Só que é difícil chegar nesse ponto. É difícil perceber que esse é o problema. É difícil entender que eu posso escrever o que quiser nem que seja uma lista de supermercado dos acontecimentos da história. É difícil lembrar que o rascunho não é a hora de mexer.

É difícil também, depois, quando chega a hora de dar forma. Mas ok, porque eu já não tenho mais que usar a energia dobrada de escrever e editar. Ok porque eu já coloquei tudo pra fora, então é só organizar. Ok porque eu não to matando nenhuma grande ideia minha.

OBS Escrever e editar: escrever como criar, gerar coisas, inventar. editar como organizar, cortar, destruir. O processo todo é como um equilíbrio entre criar e destruir.

Já me perdi completamente no texto e decidi que não vou postar no CC, porque eu escrevo mais do que eu consigo publicar lá. De qualquer modo, acho que eu queria falar sobre essa insegurança na hora de escrever e como ela cala uma história. O medo de mostrar pra os outros faz parecer que não tem nada pra falar. É um tipo de bloqueio criativo que é menos do que uma pedra no meio do caminho, é uma camisa de força. E acho que eu nem lembrava que ele existia.

Eu não acho que tenha descoberto como destruir essa insegurança.

Eu aprendi a dar a volta nela.