Comentário-resposta meu num texto do CC, que eu quis salvar porque tem umas partes que pretendo usar no futuro.
Não julgaria mal. Até porque você tirou um tempo pra se expressar e tentar entender a situação, que é mais importante do que tudo. Além disso, seu comentário foi super importante pra eu poder escrever um post recente. Foi a faísca da revolução. HUAHAUH
Sobre estereótipos, Chimamanda Ngozi Adichie diz “E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem um história tornar-se a única história.”
E o problema da histórica única é que você pensa que pode ser apenas isso, as pessoas ao seu redor esperam que você seja apenas isso, e o mundo é criado como se você fosse apenas isso – enquanto não é. Então você vive um mundo que não reconhece a sua verdadeira existência.
A ideia de que homens não gostam de rosa é um desses exemplos. E isso se tornou tanto uma história única, que parece natural. Mesmo que seja uma invenção cultural extremamenet recente. E isso ainda faz parecer que não podemos mudar essa realidade.
Sobre isso do “Antigamente, quando iam caçar” foi a minha parte preferida, porque eu não consigo acreditar em milhares de ano de história essa estrutura tenha se mantido e decidi pesquisar – acabou que não é verdade. Esse antigamente quando os homens iam caçar, eram os heróis, e a mulhe mantinha a casa – ele não existe. Mesmo que é provável que nossa espécie tenha evoluído do macaco – ou da mesma que ele – não é um processo tão rápido e assim. Inclusive, há dados que indicam que a igualdade de gêneros é justamente o que nos diferencia do macaco e permitiu a evolução.
Tá vendo o problema da história única? Mesmo que a realidade seja uma, nós pensamos que os homens têm que ser líderes, heróis e protegerem nossas famílias mesmo que isso não seja verdade. mulheres, se quiserem, podem assumir esse papel. enquanto homens, que não quiserem, não precisam assumir esse papel.
E essa reflexão do homem como herói não é uma cultura milenar. Eu não sei desde quando começa, em qual cultura começa, mas não é um reflexo de um sistema milenar. É algo reproduzido hoje em dia, agora, quando um autor senta pra escrever e repete a história de que o homem é o herói.
Dito isso, eu concordo com você que exista diferença. Nós somos criados como pessoas diferentes. As pessoas com base no gênero designado no nascimento aprendem linguagens diferentes para interpretar o mundo e isso é refletido no que é escrito. Enquanto uma narrativa “masculina” é muito mais centrada na aventura da pessoa protagonista determinando a formação de quem ela é no mundo, na narrativa “feminina” você desenvolve essa noção de “eu” mais centrado nos relacionamentos. Ou seja – um cria identidade através do que faz, o outro cria identidade através de com quem está. E eu acredito que isso seja reflexo de uma cultura que rouba da mulher os meios de assumir a própria vida (não pode trabalhar, não pode andar sozinha, não tem treinamento pra se defender, etc etc). E eu não acho que uma seja melhor do que a outra se elas existirem juntas como opções – não opções de acordo com o gênero. Mas não é o caso.
Estamos presos à história única. Uma história única que fortalece a ideia de que a mulher não tem poder sobre a própria vida. Uma história única que fortalece que um homem não pode ser sentimental. E tudo isso é tóxico pra sociedade.
Eu me perdi aqui, mas quis compartilhar isso.