Esse texto eu escrevi pra o Batdrama, a minha newsletter que você pode se inscrever aqui, mas acabei cortando essa parte e compartilhando aqui.
Esses dias por causa da academia (que tem me feito ouvir podcasts), conheci o podcast Story Grid, que é um editor conversando com um escritor iniciante, e tem aí o site do Story Grid.
Aprendizados legais: Cada história tem o Beginning Hook, Middle Build and Ending Payoff.
Ou em português: Gancho Inicial, “Desenvolvimento” do Meio e Recompensa final.
Isso parece que eu tô dizendo só “início, meio e fim”, mas é diferente assim, porque você meio que divide cada parte (ou os atos, no caso de uma estrutura de 3 atos de filme), pelo propósito de cada parte na sua história.
Esse gancho inicial indica que na parte inicial (onde acontece o “incidente incitante” que leva à história), não é só exatamente uma introdução, mas normalmente é tipo… um gancho, que vai prender o leitor de certa forma, mas meio que uma pergunta: O QUE VAI ACONTECER POR CAUSA DE X?
Se você for ver, praticamente toda história é “aconteceu algo, e agora?” (chapeuzinho não seguiu o conselho da mãe, e agora? katniss foi parar nos jogos vorazes, e agora? harry potter é um bruxo, e agora? o cara de 500 dias com ela conheceu uma garota, e agora? O QUE VAI ACONTECER?)
A segunda parte é o Middle Build, que eu traduzi meio mal. Mas é meio que tipo, tem um sentido de construção, é a parte do meio que vai crescendo, se desenvolvimento, sendo construída ATÉ (Ending Payoff). Normalmente nas histórias, depois que acontece o X, o protagonista se mete em várias situações que vão só “piorando” (=levando mais longe). Tipo, Harry Potter, ele vai pra escola, aí tem um garoto que não gosta dele, aí tem um trasgo nas masmorras, o jogo de quadribol, ele na floresta negra, etc. O interessante é que ele vai de um ponto que é WOW UM LUGAR MÁGICO TODOS MEUS SONHOS SE REALIZARAM e cada etapa ele vai vendo que esse lugar não é tão perfeito quanto parece, progressivamente. Estudantes babacas. Conflito entre casas. Professores que não dá pra confiar. Lugares perigosos pra ir. Até o fim, o grande bruxo das trevas está de volta. Sei lá, é como ir passando de etapa em etapa e cada vez estar mais longe do seu ponto inicial, aquela coisa “X” que apareceu pra mudar tudo, chega ao extremo.
(normalmente o X é uma coisa ruim, então no fim do Middle Build tá pior ainda. Mas no caso de Harry Potter nem é algo ruim – ele descobre que é bruxo. Então perto do fim do Middle Build tá um momento que não dá mais pra voltar atrás e ser um trouxa ordinário) (afinal, ele é o harry potter, o garoto que pode derrotar voldemort!)
E aí vem o Ending Payoff, que é tipo “pagamento”. Meio que lá no início você perguntou O QUE VAI ACONTECER? Agora é a hora de responder. A Katniss vai vencer as regras dos Jogos Vorazes.
Você sabia que no ConversaCult a gente tem uma tag chamada Centro de Treinamento com 938239832 textos meus sobre Jogos Vorazes? Agora que vi que acho que nem todas as análises que eu fiz foram postadas.
Mas enfim, o Ending Payoff é a conclusão, “payoff” é pagamento, que meio que traz a ideia de que lá no Hook eu to comprando algo – aqui eu recebo.
Lembrete que nada disso é Regra. São detalhes, sobre estrutura, que ajudam a gente a entender melhor as nossas histórias e organizar na hora de contar. Você pode analisar assim, você pode analisar através da Jornada do Herói, tem o Seven-Point System também, e eu vou falar outro aqui agora. Essas estruturas não são exatamente diferentes, elas existem ao mesmo tempo e sobrepostas, meio que só diz respeito a como você separa cada parte. A Jornada do Herói tem uns 12 pontos, então é uma análise de parte a parte muito mais detalhada do que vendo por esses 3 pontos. Eu normalmente depois que eu termino uma história, busco usar de guia essas coisas pra ver parte a parte da história se a trajetória tá fluindo. Não é pra encaixar perfeitamente na estrutura (não é regra!), mas pra me dar uma base pra me orientar.
De quebra, quando eu leio sobre essas coisas eu começo a internalizar e aí quando eu vou escrever novas histórias, já sai mais naturalmente.
Eu ainda tô pra ler mais sobre essas 3 partes, tenho que parar pra ir no site do Story Grid ver. Hoje o podcast que eu ouvi foi o editor ajudando o escritor a completar o início do Ending Payoff da história dele.
Agora, o que eu li no site e quero ler e reler mais 9238329823 vezes são as 5 seiláoque mandamentos? Da história, que é:
(esqueci completamente) (tão completamente que nem sei sobre o que é) (vou olhar)
É MANDAMENTO MESMO! não sabia o que commandment significava, mas aparentemente meu cérebro sabia. HUAHUAH meu cérebro sabe mais inglês do que eu, eu só não sei usar meu cérebro
5 mandamentos da escrita
1. Incidente Incitante
2. Complicações progressivas
3. Crise
4. Climax
5. Resolução (dessa vez não sabia se resolução era uma palavra real em português, ou aqui era só qualidade de foto)
Eu vi sobre essas partes quando li o livro Story, do Robert McKee, que analisa parte a parte de montar uma história (roteiro) a fundo. Só que é muita coisa pra guardar, então eu vejo essas coisas e passo anos revendo 2398329832 vezes pra poder incorporar. (eu li uma vez que na Pixar antes de começar um filme eles olham a jornada do herói pra relembrar)
E uma coisa interessante é que cada parte da história, repete esses 5 mandamentos. No caso de filme: o filme como um todo tem os 5. aí cada ato tem. aí caso sequência tem. aí cada cena tem. aí cada beat tem.
Numa conversa acho que é tipo.
– E aí, vamo lá nadar na praia.
– Cara, tá de noite já. (incidente)
Aí as 2 pessoas ficam discutindo sobre ir ou não ir (Complicações progressivas), até que chega a crise, que é a mulher que quer ir na praia lidando com uma decisão (eu vou na praia sozinha e ferro a amizade? eu vou na praia com os amigos e arrisco a vida deles na água? eu fico em casa e sacrifico o meu desejo de ir a praia?) e aí ela toma uma decisão (clímax) e a conversa termina com as consequências do que escolheu.
É claro que parece super dramático assim OH VOU TER QUE FICAR EM CASA E SACRIFICAR MEIO PASSEIO NA PRAIA e ninguém escreve vendo se cada parte se encaixa nisso (quando alguém olha isso numa cena, é mais ou menos depois pra entender por que não tá funcionando e como melhorar. “ih, a resolução não ficou meio clara”).
O ponto é que eu acho que essas coisas não são exatamente “mandamentos”, mas são meio que movimentos, ações, de como normalmente histórias acontecem. A gente já tem aí mais de 2 milênios da arte de fazer histórias, então deu pra observar como muita coisa é feita e entender o que tá acontecendo. Esses “mandamentos” é um reflexo disso, uma versão enxugada.
Eu quero algo, mas tem algo me atrapalhando (incidente), aí eu tento (complicações) até que chega um momento que por causa de algo (crise) eu decido (clímax) e dá em algo (resolução).
Se você aí no dia a dia vai contar pra alguém sobre algo que aconteceu, chances são de que você vai usar uma estrutura parecida sem nunca nem ter ouvido falar desses 5 mandamentos.
Tu num chega em casa e fala “cara, vira um carro hoje”. Se você faz isso alguém vai virar e “???? e daí? [cade o incidente inciante?]”, aí tu vai contar e provavelmente continuar seguindo a estrutura.
Até nesse cenário de alguém conta a história eu usei mais ou menos isso (alguém tentou falar algo, mas o outro não entendeu [incidente], que leva a pessoa na incrível jornada de explicar até que foi entendido [resolução]).
Eu tô falando tudo isso, mas eu não entendo nada. Eu fico pensando: como? como é que faz essa crise, o clímax? Nessa história, onde é que começa as complicações? Na maior parte do tempo eu não sei. Mas quanto mais eu leio e mais eu falo, mais fica claro.
No geral, acho que todo mundo usa estruturas gerais de contar história, a diferença é que quanto mais a gente entende, mais dá pra usar isso a nosso favor, pra contar a história do jeito que a gente quer.