Não gostar de quem shippa personagem “hétero” com alguém do mesmo gênero

6 thoughts on “Não gostar de quem shippa personagem “hétero” com alguém do mesmo gênero”

  1. Não vou gastar meu tempo pra silenciar quem faz isso, porque não é legal mesmo, mas… continuo sem entender bem o porquê. Tipo, se o personagem já é confirmado gay, hétero, ace ou alguma outra orientação que claramente não é atraída por x ou y, ficar shippando justamente x ou y não é meio forçar a barra? Em alguns casos quando não é confirmado ou dá pra ver que vão desenvolver essa descoberta no personagem, dá pra entender. Mas em outros não dá.
    Apagamento “oficial”, tipo a história fingir que bi, ace, pan etc não existem e transformar personagens em hétero e homo arbitrariamente, é uma parada que me irrita de verdade, mas acho que já to fugindo do ponto.

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    1. Tipo, a questão é o contexto. Nós vivemos em um mundo onde ser LGBT+ é considerado errado – tipo, literalmente. Diz que é doença. É censurado. Algo que não deve existir. As pessoas são assassinadas e sofrem formas de tortura para tentar mudá-las.

      Na ficção, mesmo que a gente não tenha algo tão horrível assim, ainda tem um reflexo dessa mentalidade. Uma das provas é o trope Bury Your Gays (matar personagens gays) que foi criado justamente como uma forma de censura – antigamente nos EUA não podia mostrar história feliz com pessoas LGBT+ – e continua ainda sendo um dos maiores problemas de representatividade LGBT+, especialmente para mulheres. Isso quando não é diretamente censurado, o que acontece muitas vezes.

      Tô falando isso, porque é importante entender que o contexto não é igual. A maioria dos personagens são confirmados hétero, porque esse é o padrão, o esperado, o considerado certo. Enquanto isso, quase não tem representatividade LGBT+, e mesmo as que tem são fracas ou personagens secundários.

      Tipo pensa que absurdo é ter toda uma cultura pop, e você olhar em volta e não se ver. Você não tem nenhuma história em que você possa existir.

      E o headcanon LGBT+ de um personagem “hétero” é uma forma de se inserir na narrativa. De encontrar partes de você. E principalmente graças a fandom, você passa a ter acesso a uma grande quantidade de literatura (fanfic) e pessoas que criam uma comunidade positiva. Ou seja, headcanon LGBT+ de personagem “hétero” é uma forma de sobreviver, mesmo que no submundo.

      Pessoa hétero não precisa disso porque ela tá aí viva em absolutamente qualquer história que você entrar no cinema.

      E isso sem falar que já é comprovado que esses headcanons ajudam a impulsionar a existência de personagens que sejam LGBT+ no canon. Pensa até no Malec, que é um dos principais casais m/m de hoje em dia, e ceeerteza que veio da cultura de ship LGBT+ de Harry Potter. E fandom a partir de headcanon também ajuda a mostrar que coisa LGBT+ vende, o que é uma das desculpas que dão pra não fazer.

      Além disso, tipo… tem uma diferença no tratamento. Homem e mulher aparece em cena já vira casal ninguém diz nada. Se é do mesmo gênero, mesmo com desenvolvimento e química entre os atores é ignorado. Tipo, pessoa hétero falha mesmo em ver ship de mesmo gênero como possibilidade de relacionamento, sabe? Muita gente hétero chega até a dizer quando ship confirmado de mesmo gênero acontece que “veio do nada”. Eu não sei se é costume, ou o que é, mas as pessoas hétero não >enxergam< como "atraente" relações de mesmo gênero (e isso serve pra interracial também) da mesma maneira que f/m.

      (Sabe quando você olha pra dois personagens e fica? AI MEU DEUS QUERO QUE ELES SEJAM UM CASAL! ELES COMBINAM!!! pessoas hétero normalmente não sentem isso com pessoas de mesmo gênero, e aí elas dizem que não tem nada ali)

      E aí a pessoa LGBT+ tá ali vendo a possibilidade, às vezes até os atores, e ela não acontece. Aí brota um hétero do chão e já sai fazendo sexo no mesmo episódio.

      Ou seja, existe um contexto tenso que apaga a existência de pessoas LGBT+, e fazer esses headcanons é uma das poucas formas que tem de lutar contra e sobreviver. É forçar a barra, mas a questão é que a barra tá sendo forçada porque o personagem só é confirmado hétero porque tem alguém ali atrás que não quer que seja LGBT+.

      Não sei se tá claro, mas tem alguém ali atrás, sabe? E por que a pessoa tá insistindo no hétero?

      PS1: lembrar que transformar canon hétero em LGBT+ não é o mesmo que transformar personagem canon LGBT+ em hétero. esse segundo caso é lgbtfobia direta.
      PS2: tem também o contexto das garotas hétero que ficam shippando homem, e isso aí é toda uma outra conversa (problema) e objetifica demais as relações de mesmo gênero e tira a importância por trás de relações LGBT+ em histórias como humanização de um grupo.

      A questão é que no contexto de fandom, a gente discute muito as coisas como brincadeira, como se fosse "time". O meu é melhor que o seu. O meu é bonitinho. E eu vivo em fandom desde sempre. Mas quando a conversa chega na representatividade, o assunto muda.

      O que eu vejo muito é que pessoa hétero trata ship tipo bichinho de pelúcia e fica brigando com gente LGBT+ que precisa dessas histórias. Tipo, não é como se existisse uma divisão clara entre os 2. Mas gente hétero não entende essa dimensão das histórias, e o impacto na vida real do apagamento LGBT+ e muito menos o próprio privilégio em dominar todas as narrativas.

      Eu espero que isso tenha ajudado? HAUHAUh se não, pode perguntar mais. E eu não entendi direito o que você quis dizer com apagamento oficial

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  2. Ok, agora deu pra entender pelo menos por que isso é importante. Obrigada ♥ hahahahah
    É que eu mesma não consumo conteúdo fanmade, sabe? Não consigo. Então é todo um universo que não faço parte e não entendo. E no meu caso ficar shippando coisas que nunca seriam canon é só pedir pra sofrer, porque não consigo consumir coisa fanmade e colocar no mesmo nível que o canon.
    Eu também fico MUITO PUTA com isso de casal hétero sem desenvolvimento nenhum já aparecer se pegando e isso ser ok, enquanto ainda tem gente que chia com outros casais que vieram se desenvolvendo por muito tempo. E com o que você disse no PS2. Stop fanfic de jogador de futebol hétero 2k16. (mas não vou mentir que às vezes vejo um par de pessoas de qualquer combinação de gêneros que acho que ~sejam bonitinhos~ e já penso “MEU SHIP” — isso aconteceu umas 3x ao mesmo tempo em Supergirl nessa temporada nova)
    E não tinha parado pra pensar que “não confirmado” significa “hétero confirmado”?????? Isso faz tanto sentido, porque deve ser como o espectador médio vê as coisas mesmo. Se não rolar uma confirmação LGBT+ de cara, pra ele sempre vai ser aquele padrãozinho. Digo “de cara” porque se for ambíguo no começo e desenvolvido pra LGBT+ depois acontece de a homofobia atacar, como você disse 😦

    O que eu falei do “oficial” era que certas identidades sempre são apagadas do canon das coisas.
    Por exemplo, personagem bi/pan não dizer com todas as letras que é isso e ser escrito como tal. Ou ele começa a história gostando do sexo oposto e “passa” a gostar do mesmo (sem um desenvolvimento), ou começa gay e “vira” hétero dizendo que foi uma fase, blablabla (que é o seu PS1 e completamente revoltante). Um dos poucos exemplos de personagem bi/pan que vejo bem desenvolvido é justamente Magnus Bane, aquela criatura maravilhosa.
    E aí tem os personagens ace/demi que a gente tinha como representativo e acabam querendo tornar outra coisa, tipo Sheldon Cooper aparecer hétero, ou a galera insistindo que a Elsa precisa de uma namorada. É aquilo que você disse de “ter toda uma cultura pop, e você olhar em volta e não se ver”. A gente só se ver em princesa da Disney da década de 1950 e Katniss Everdeen e olhe lá é meio absurdo.
    Não sei se deu pra explicar direito (?)

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    1. Eu entendo, porque eu costumo/costumava pensar a mesma coisa. PRA QUE ISSO. O Swan Queen (ship que eu coloquei na capa) eu nem gostava e não entendia. O pessoal que faz OUAT é hétero descarado, e o pessoal ainda fica tendo esperança. E tem alguns casos que eu via coisa tipo o pessoal surtando porque 2 pessoas tocaram uma na mão da outra numa cena. E eu “CARAMBA, COMO ASSIM? Vocês gostam mt de sofrer” Mas… de certo modo, é tudo o que o pessoal tem.

      *aaaaaaaah, e ainda tem um histórico de que muido do que é LGBT+ na cultura costuma existir só em subtexto, por causa da censura. Pouco mais de 10 anos atrás era praticamente proibido mostrar. Korra em 2015 terminou com as duas personagens de mãos dadas, se fosse hétero, elas já teriam se beijado há muuuuuuuito tempo. Então existe uma cultura forte de aprender a ver nas entrelinhas, porque esse é o único tipo de existência permitido.

      Imagina só como deve ser ser uma garota lésbica, tendo que ser ver em relação f/m e ainda escolhendo qual ship de homi ela quer. E só o fato disso ser sempre repetido… que mensagem isso manda?

      E sobre isso de não ser confirmado, ainda tem mais: mesmo depois que confirma, o casal/personagem é desvalidado. A Clarke, por exemplo, pessoal dizia que a Lexa usou ela, que foi momento, que ela não gosta de verdade de garota. Ao ponto que os criadores colocaram ela fazendo sexo com uma mulher só pra deixar claro. E quando o pessoal não inventa mil razões pra dizer que o personagem não é queer (mesmo com prova), ainda vê o personagem LGBT+ como vilão, vê as ações como manipuladoras e abusivas. É SINISTRO.

      Entendi agora isso do oficial. E o caso do Sheldon é um exemplo mesmo desse apagamento oficial, e por que personagens precisam confirmar a sexualidade. Tipo a Elsa, se ela não confirmar que é ace ou lésbica ou bi ou seja lá o que for, o canon dela vai ser eternamente hétero.

      Aliááás. Sobre isso de ver a Elsa ou o Sheldon como ace. Não é forçar a barra também?

      Eles não são ace no canon. Só que o pessoal vê dessa forma mesmo assim. A pessoa ace busca o personagem que não parece ter nenhum relacionamento pra se afirmar, enquanto os outros para ver a própria existência buscam ver um relacionamento acontecer.

      Acho que a maior diferença é que pra pessoa L/G/B/P, não importa o que ela faça (tendo headcanon da Elsa como lésbica, ou querendo que Swan Queen aconteça), sempre vai entrar em conflito direto com o canon. E aí é que dá a impressão de forçando a barra.

      (e obrigada por falar essas coisas e perguntar, aprendi muito aqui <3)

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      1. NOSSA, VERDADE. A censura é fortíssima (apesar de já ter sido muito mais, graças) e quem toma as decisões boa parte das vezes é omihétero branco né? Acho que isso às vezes nem tem a ver com quem tá escrevendo ou produzindo a história em si, mas com o medo de perder a audiência desse público retrógrado, especialmente se for EUA. Dá pra ver até pelo fato de elegerem alguém com o discurso do Trump que o pessoal tem o mindset bem LGBT-fóbico, racista… e de repente não querem arriscar pra não perder esse público. Mas IN DOING SO acabam perdendo o público que cansou de não se ver naquelas histórias, então até que ponto de fato vale a pena ficar nessa pra sempre? Ou eles não percebem, ou realmente não se importam, gostam dessa parada de sempre ter o discurso dominante. Tá bem melhor que há alguns anos, mas o progresso ainda é lento.
        Inclusive isso me lembra a parada dos quadrinhos. Nos últimos anos, os reboots de vários heróis tão bem menos centrados em homem-branco-hétero, porque eles tão vendo que essa aproximação com o público real dá um retorno melhor que o “mais do mesmo”. A cabeça do leitor de quadrinhos HOJE permite — ou melhor, exige — essa mudança, e, se eles não acompanharem, eles que não vendem e deixam de ser relevantes etc.

        “Aliááás. Sobre isso de ver a Elsa ou o Sheldon como ace. Não é forçar a barra também?
        Eles não são ace no canon. Só que o pessoal vê dessa forma mesmo assim.”
        Ok, you win, não tinha pensado nisso. Pra ver como as migalhas são mais esmigalhadas do que eu imaginava, porque a representação ace é nula. Elsa, mesmo, não é nada no canon, então é como se a gente (as in todo mundo) tivesse a página em branco pra interpretar como quiser — como se identificar mais.
        Diria que a única coisa que a Elsa é de certeza é demirromântica (e sensata) pela frase “you can’t marry someone you just met”. Ok, deve ter sido uma crítica sutil aos filmes mais antigos da Disney, mas é uma frase 100% demirromântica HAHAHAHAHAH

        (e eu que agradeço por sempre ter paciência todos esses anos porque nossas discussões são A+ hahahahah geralmente só me atrevo a fazer comentários assim quando tenho alguma dúvida muito forte ou algo muito importante a acrescentar e sei que a pessoa não vai me matar por isso)

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  3. siim, mistura tanta coisa. e um dos meus textos preferidos é o do Mike Konietzko depois da finale de The Legend of Korra, que ele fala que faz já um tempão que eles viam a Korra + Asami com canon, só que eles não tinham desenvolvido porque né um desenho da Nickelodeon. E já tinham até finalizado a última temporada quando ele viu que não queria deixar assim, aí ele correu atrás e mudou o final pra terminar elas de mãos dadas (beijar já é censurado). Mas a parte interessante é que ele diz que os caras da Nickelodeon foram bem receptivos. E aí a questão é meio que… se ele tivesse se esforçado antes, talvez poderia ter feito mais coisa. Não tem nenhuma censura explícita pra mostrar, só que a gente não é acostumado a ver, a gente pensa que é impróprio, a gente reproduz o que é considerado normal… e aí acaba não fazendo.

    Isso eu acho muito importante, porque eu acho que os maiores problemas de representatividade no geral agora, menos do que a censura ou qualquer desculpa que inventem, é mais a nossa própria visão do que é possível. São as pessoas legais, que se importam, que muitas vezes acabam fazendo merda por não parar pra se reconstruir ou dar um passo e ousar fazer algo melhor.

    Quadrinhos é ótimo. Eles viram o problema, e de fato tão buscando mudar. (não sei até que ponto por se importar, até que ponto necessidade de mercado.. mas.)

    Exato. e é por isso que a gente precisa de representatividade de verdade, não interpretação de subtexto.

    ——–

    e olha, tu pode perguntar o que quiser. e se eu não tiver sendo clara, pode perguntar mais ainda ou discordar. eu gosto de falar, porque eu aprendo muito. e o que me dá vontade de matar é gente que ignora e continua fazendo merda.

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