Eu comecei a assistir Humans ano passado, vi a primeira temporada toda, ok. Tudo heteronormativo como sempre, nenhum sinal de que pessoas que não fossem hétero existissem. Ok.
Aí saiu o trailer da segunda temporada, que mostrava a Niska beijando uma garota.
Na hora, eu fiquei com 100 pés atrás. O curioso foi que eu fiquei sabendo do trailer porque no artigo citava Bury Your Gays (o trope sobre morte de personagens gays, já que a maioria de mulheres queer da ficção morreram nas histórias em 2016), então já começou no meio de uma discussão sobre representatividade.
Mas os meus pés atrás eram por outros motivos.
Primeiro, por causa da s1 super heteronormativa que não dava nada a indicar que eles iam fazer boa representação. (e a história da Niska na s1 já era……………..)
Segundo, porque gente gay se beijando em trailer costuma ser queerbait (=isca que usa relações de mesmo gênero para atrair a audiência LGBT+ e gerar buzz nas redes sociais).
Terceiro, porque Niska é um robô (android, synth, sei lá) e o beijo no trailer foi mostrado na narrativa de “experimentar a realidade”. E infelizmente é muito comum reforçar o estereótipo tóxico de que relações entre mesmo gênero são só “experimento”, algo “pra ver como é” ou “ser ousado e fazer de tudo” (ex: o trailer de Westworld no mesmo contexto mostra um beijo entre duas mulheres pra apresentar esse lugar utópico que o pessoal vai pra fazer o que quiser, a música da Katy Perry…) e até mesmo esse experimento é associado a uma personagem que ~vai pra o mal caminho~ (Marissa de The O.C.) .
Aliás, quando fui vasculhar minhas conversas, até encontrei isso:
Tu sabe que é um trope problemático quando em poucos meses tu encontra várias versões disso.
Ou seja, Niska um robô experimentando o que é ser humano e pegando qualquer um, inclusive mulheres, e isso ainda ser vendido no trailer pra série parecer “ousada”. É a coisa mais velha do mundo e uma merda.
Então, comecei com uns 100 pés atrás.
Mas fui ver porque já ia ver a s2 de qualquer forma.
Então… foi bem diferente do que eu imaginei. Bem diferente.
A partir daqui spoilers.
Mas se você é como eu que queria um spoiler básico só pra ter certeza de que tá tudo bem e é seguro assistir, a resposta é: sim. (aviso) no fim elas ficam vivas
Não acredito que a Astrid tá usando a mesma roupa/cabelo da Alicia em FTWD, é muita sacanagem. A pior parte é que as duas séries são da AMC, então pode ter sido até a mesma equipe.
Pra começar, a história já começa com as duas. A gente tem toda a história delas antes de qualquer coisa na temporada e é… fofo. Fofo porque as duas juntas são bonitinhas. Tem diálogos que aaaaaah tipo:
“You don’t talk much.”
“Talking is mostly noise.”
“So should I shut up?”
“No.”
Niska é introvertida amo/sou
Eu queria que fosse mais devagar o relacionamento e senti que o primeiro episódio inteiro foi meio corrido só pra construir as bases pra temporada, mas ok. Eu queria mais, seria melhor mais, mas dá pra entender no estilo da série que isso é justificado?? Até porque é só a base pra o que vai acontecer, não a história em si. Enfim, fica aí o comentário de que poderia ser melhor.
Fui rever agora e é muito legal, porque as cenas delas se aproximando são fofinhas e antes delas se beijarem a garota pergunta mesmo se ela quer pra ter certeza de que tá tudo ok e depois a Niska fica curiosa pra entender como ela sabia que gostava de mulheres, o que mostra ela questionando a própria sexualidade (como sexualidade funciona em synths??? mas na real, como a sexualidade funciona em seres humanos????).
E to rindo que a Astrid responde que quando tinha 9 anos foi a “Flora Holtzmann” que fez ela perceber. Holtzmann.
E EM SEGUIDA A NISKA PERGUNTA “SE VOCÊ TIVESSE O PODER DE CRIAR VIDA, VOCÊ FARIA?” E A ASTRID PENSA QUE ELA TÁ FALANDO DE TER FILHOS. HUAHUAHUAHA PRIMEIRO ENCONTRO. HUAHUHAUHAUHAA E o pior que toda a conversa delas vai ser usada no plot, então foi bem inteligente.
PARA TUDO, ELAS SÃO AS MAMÃES DE TODOS OS SYNTHS. HAUHAUHAUHUAHUAHUAHAAHAAHAHAAHA
Mas sério, a Niska é que decide dar vida pra os synths e ela faz isso porque segue os conselhos da Astrid, depois de uma sequência de romance e sexo. Se o Fealty foi o casamento Clexa, essa sequência inicial de Humans s2 é o nascimento dos synths. AHUAHAHAHA
Aí continua, agora a parte interessante: A ASTRID TRABALHA NUM LUGAR QUE PARECE UM CAFÉ. Mas só sei que ela tem um aventalzinho verde e só consigo pensar que Humans S2 Astrid/Niska é um coffee shop au.
Garotas se conhecem na festa. Dormem juntas. Uma delas começa a ir no café aonde a outra trabalha.
A Niska compra uma cama só por causa da Astrid.
Mas é claro que a Astrid percebe que a Niska está escondendo um segredo (ela é um robô HAUHAUH) e fica desconfiada porque já tão semanas nesse vai não vai. Aí dá um conflitozinho, mas a Niska acaba tendo que ir embora porque os synths estão acordando, ENFIM.
A partir disso, as duas não aparecem muito e, infelizmente, a maior parte da narrativa da Niska envolve ficar sentada sendo testada.
Aí é que eu achei interessante, porque a razão do romance delas em termos de história é poder provar que a Niska tem sentimentos humanos, ou seja, pode ser julgada com os mesmos direitos humanos, e no fim dá a ela algo pelo qual lutar.
Eu acho que na S1 a Niska foi muito do “time” dos synths querendo se vingar dos humanos e passou por um arco de aprender mais a ter sentimentos bons. Na S2, a Hester assume de uma maneira mais brutal o mesmo caminho da Niska na S1, enquanto a própria Niska através da Astrid representa mais na série um time de que “os humanos podem ser bons”. Eu achei isso sensacional pelo simples fato de que a Astrid/Niska é apenas uma relação positiva na história, o objetivo é esse: ser positivo.
A Niska nunca teve direito pra onde ir, sempre ficou meio isolada dos outros e aí através da Astrid ela encontrou um lugar dela.
O relacionamento delas também é natural e se encaixa na narrativa de uma maneira… eu diria, meio que refrescante. Porque eu ainda não tinha visto um casal de mesmo gênero ser tratado assim, de forma comum. Ainda tem uma razão pra o relacionamento acontecer, mas acho que não é muito diferente da maneira que os outros são usados em Humans. Além disso, o conflito não é entre elas, nem que fica ameaçando separar as duas. Tipo, elas se separam e tal, mas você sabe que a Niska voltaria pra Astrid depois de tudo na boa e elas ficariam juntas sem nenhum problema? Não dava medo. Assistir era mais uma questão de “quando a astrid vai se envolver? como?” e não “será que vai?” (é claro que a gente sempre tem medo porque sempre dá merda, mas é um medo que vem de saber que sempre fodem representatividade LGBT+, não tanto da história em si)
Uma coisa que eu achei muito legal é que acontecem três outros relacionamentos novos na história. Um forma um triângulo amoroso ruim, entre Hester-Leo-Mattie. Que Mattie se livre do Leo 2k17. O outro é o do irmão da Mattie com a garota que finge ser synth e aí cria o maior drama, medo dela morrer, mas os dois ficam ok no final.
E principalmente a narrativa da Mia com aquele cara lá, que eu acredito ser a completamentar a da Niska. Se a da Niska mostra que você pode confiar em humanos, a da Mia não. E eu acho que foi objetivo da série fazer esse paralelo porque eu acho que o objetivo era discutir que não importa se é humano ou se é synth, um não é melhor que o outro, os dois fazem merda, nos dois grupos tem gente boa. Mas e daí? E daí que foi a relação f/m que eles foderam e usaram pra quebrar a crença, enquanto a da Niska com a da Astrid permaneceu exemplo de positividade.
Isso é algo difícil nas histórias. Normalmente a de mesmo gênero que é sacrificada pra dar um exemplo. Mas não.
E mesmo depois de tudo, Niska e Astrid continuaram juntas, seguindo com a própria vida. Olha, eu achei uma certa falha aí de desenvolvimento da Niska que eu acho que precisava mais tempo pra ficar melhor, mas aquele de “seres humanos nunca vão nos ver como iguais” parece furado considerando que ela tá com a Astrid. Mas ok.
Mas aí continua, a Astrid é melhor namorada do mundo, sério, dá todo suporte e ama a Niska do jeito que ela é, mas também presta atenção e vê que a Niska gostaria de ir atrás da própria família. Talvez aquela enrolação de cima tenha sido só pra fazer a Niska chegar como salvadora no final. Enfim.
A questão é que a Niska não foi salvar a família, porque agora ela tinha a Astrid e tava com medo de perder ela e não queria se separar outra vez. E isso é muito importante porque completa o arco dela da S2. Niska termina a s1 sozinha, sem pra onde ir, e no final da s2 através da Astrid finalmente encontra… o seu lugar.
COM LICENÇA ENQUANTO EU MORRO PORQUE ELAS SÃO MUITO FOFINHAS E EU AMO ESSA CENA OK A CARA QUE A NISKA FAZ É TÃO NISKA
Esse momento é perfeição. A Astrid cutucando a Niska, a Niska toda perdida porque Como Assim O Que A Minha Humana Tá Falando e quando ela entende, acha bobo e tenta se controlar, MAS ELA GOSTA TANTO DA ASTRID. Niska deserved better e recebeu isso.
“Você faz o que você tem que fazer e volta pra mim”
Niska: “Eu posso não voltar. Eu nunca me importei com o que aconteceria comigo até eu te conhecer.”
“Então dê um jeito de voltar.”
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH
Ou seja, no fim, eu gostei muito como eles desenvolveram, porque o que eu imaginava que ia ser aquela coisa sexualizada de experimentação se tornou um romance fofinho que deu base pra história de provar que a Niska tinha sentimentos e literalmente uma razão pra ela viver. Mais até do que isso, porque a Niska confia na Astrid e pede a opinião dela e isso orienta o que ela faz lá quanto às questões dos synths.
A única coisa que eu queria mais nessa temporada é espaço, pras duas. Espaço pra Niska, porque eu tava pensando, a Niska é basicamente a Sun (Sense8) de Humans. Dá merda e você tá CADÊ A NISKA PRA RESOLVER ISSO. Menos Leo e mais Niska no futuro pf.
E uma coisa que eu gostei da Niska é que ela começa a temporada e ela encerra. Basicamente, Humans s2 foi sobre a decisão da Niska de “acordar” todos os synths.
Ah, já ia esquecer. A Astrid é tipo a super-hero origin story da Niska. Em vez de tragédia, ela encontrou alguém pra amar e por quem fazer as coisas certas. Eu imagino que a sequência pra personagem dela deva ser uma espécie de “synth vigilante”. Ela protege os que precisam, mas lida com os que fazem merda. Mas não sei, né. Pelas pontas abertas Humans tem muito pela frente. Espero que continue sendo gay, que tenha mais Astrid/Niska, principalmente a Astrid ganhando storyline própria e que não envolva sofrimento. Continuamos esperando pela Mattie ser bi. E, aliás, esperando pra eles usarem “lésbica”, “homossexual”, “bissexual”, etc, pra falar dos personagens.
Astrid-Niska não é o SHIP DO ANO, mas é um potinho de felicidade no meio das merdas que tanto fizeram. E Humans tá de parabéns porque tirando o Leo eu quase não tive lidar com homem branco hétero chato nessa temporada. Tinha cenas completas que eram só sobre mulher. Inclusive a finale, que foi algo entre Mattie-Laura-Niska-Max. É… algo bom.
É bom saber que tem coisa assim pra gente assistir.
To com muita vontade de voltar a assistir e certamente JÁ TO SHIPPANDO MUITO ESSAS DUAS
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A Niska já era a minha personagem preferida na season 1 e depois da season 2 eu me apaixonei completamente, achei tão lindo como desenvolveram o relacionamento delas *-*. Sou fã de Isaac Asimov então gosto muito dessa série, mas ela bem que e poderia ter mais atenção do que Westworld da HBO. Estou muito ansiosa pela terceira.
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