obs: Backstage é uma coluna onde eu falo sobre como é criar o ConversaCult
Acho que é uma verdade universalmente conhecida que fazer trabalhos em grupo vai dar merda. Você sabe do que eu to falando. Não tem como não saber. Desde o clássico “ficou tudo pra cima de uma pessoa” até aquelas vezes que a gente faz uma procrastinação compartilhada (isso, sim, funciona muito bem). Acho que por isso muita gente faz blog sozinho – sem encheção de saco de lidar com outras pessoas. Então aí vem eu e decido fazer um blog com várias pessoas. Tipo: EU.
Nessas horas eu tenho certeza de que o mundo (ou eu) não tem lógica. Pessoas são esgotantes pra mim. Eu tenho dificuldade séria de manter contato. Jogar conversa fora não é uma habilidade que eu tenho. Amigos (e ex-amigos) não sabem quando eu vou responder. Não gosto de ninguém mandando em mim (INDEPENDÊNCIA).
Totalmente o perfil de alguém que prefere fazer um blog com 10 outras pessoas.
E acho que ninguém mais do que eu reclama disso. Minha última frustração foi um conflito com a Elilyan sobre usar a palavra “sociopolítico” na descrição do ConversaCult (e eu descobri que eu posso odiar palavras com todas as minhas forças). Também teve aquela longa confusão sobre “e quando alguém do seu blog diz algo com o qual você não concorda?” que, enfim, acho que encontrei uma solução.
Mas vamos não reclamar uma vez, beleza? Tipo, a verdade é que mesmo quando eu comecei o blog sozinha, eu já estava fazendo parcerias aqui dentro com minhas amigas da faculdade e tinha em mente a entrada do Paulo na equipe. E depois de quase 4 anos, eu continuo colocando gente aqui e querendo mais gente na equipe.
Pode parecer que eu sou louca, mas eu sou só um pouco. Há vantagens de fazer isso.
A primeira vantagem era o óbvio: poder multiplicado. Se eu sozinha já faço muita coisa, imagina só duas de mim! Isso é uma vantagem falsa. Eu não estou me multiplicando a cada pessoa que eu coloco no blog, estão entrando pessoas diferentes. Tem pessoas atualmente na equipe do CC que nem são ativas. Pequena história: teve uma época que a Brenda tava achando melhor sair porque não fazia nada, eu falei que se ela gosta do grupo de amigos, então não precisa sair. Isso me ajudou muito a reconhecer cada um pelo que a pessoa pode contribuir individualmente em vez de um padrão geral de contribuição. Além disso, ela é muuito melhor em conversas comuns do que eu, se fosse depender de mim as conversas no grupo do whatsapp só seriam análises da sociedade, pessoas e cultura pop.
Então, por mais que fosse interessante 10 Danas aqui (eu escrevi 8 posts esse mês pra o CC, SERIAM 80 POSTS NUM MÊS SÓ!) (e quando eu escrevo 20? 200 posts em um mês!). Ok, isso foi divertido, mas não é assim. Existe diferença de como cada um faz, mas é válido dizer que de qualquer forma o poder é multiplicado. Eu acho lindo ver coisas acontecendo no blog sem a minha interferência. Parece magia. Wow. Pessoas têm o poder de transformar coisas.
Faz anos que eu decidi que não quero lidar com editoras parceiras e atualmente nós temos 5. Eu recebo livros. Brindes. Etc. Sem fazer nada. O que é isso? Poder multiplicado.
Segunda vantagem: são pessoas diferentes. Às vezes rola umas discussões tipo “ah, já tem post sobre X coisa ou eu posso fazer?” A resposta é que você pode fazer mesmo que já tenha post sobre X coisa. Cada um traz uma visão diferente. Eu escrevi 938298 posts sobre The Legend of Korra e o João ainda escreveu um totalmente diferente. O Diego recentemente escreveu sobre minorias agressivas, o que a Mariana há um tempo atrás falou de uma perspectiva tão diferente que pode até passar despercebido que é o mesmo assunto.
Mas não é só na escrita que os pontos de vista importam. A layout squad foi um grande exemplo disso. Se eu não tivesse escolhido seguir as escolhas do João, da Elilyan e do Diego, eu não teria chegado ao mesmo resultado. Eu não poderia fazer isso sozinha.
Terceira vantagem: amigos. Já falei como eu sou lá no início, então quando comecei o blog minha ideia era “coloca essas pessoas aí, elas dizem que estão interessadas, elas fazem o que querem, vlw flw”. Era um grupo de amigos teórico. Na prática ninguém é amigo. Eu não sabia da vida de ninguém e vice-versa. E mais: tem gente que eu nem concordo com tudo. É aquilo de “ai meu deus, por que essa pessoa tá falando essa coisa???”
Foi o Diego que me mostrou isso. E ano passado eu tive um momento de: por que eu não digo o que eu acho diretamente pra pessoas? *apocalipse no blog* *quase ninguém sobrevive* *saem feridos* É algo muito louco. Você já deve ter feito isso. É aquele momento que alguém faz algo idiota e você abre a janela do seu amigo pra reclamar. Eu decidi em ver de falar com o meu amigo, falar diretamente. É um hábito difícil de mudar, mas recompensador. Com direito a momentos hilários de:
– Se você acha isso, por que você não diz na minha cara?
– O que diabos você acha que eu to fazendo?
É difícil ter uma relação verdadeira escondendo coisas.
O CC me ensinou muito sobre essas amizades que não vêm com facilidade. Amizade com pessoas tão diferentes que parecem falar em outra língua.
Nós não viramos BFFs, até porque eu não posso fazer amizade pelos outros, mas posso dizer com segurança que ao longo do último ano estamos todos muito mais próximos. E pessoas que estavam por aqui há bastante tempo viraram amigas.
OBS: Em comparação, eu tenho um grupo com as minhas amigas e é super tranquilo. Nós falamos sobre tudo e não tem conflito. Uma noite dessas fiquei conversando com uma amiga desse grupo (sobre pessoas trans, fritar bifes, ser introvertido, etc) que quando a outra acordou encontrou 1200 mensagens do grupo. E ela leu tudo. (passou mais de 1 hora lendo!) Mas acho que isso é um exemplo simples de estar com pessoas legais que você gosta. Conversas produtivas, sem briga, com todo mundo interessado no que o outro fala. Falar coisas no grupo do CC às vezes é entrar num alvo de tiro. Algumas são tão exaustivas que fazem as pessoas considerarem sair do blog. Nem emojis fofinhos de pintinhos resolve. Uma vez tava lendo que essa é uma parte importante pra chegar a uma comunidade saudável (vou até dividir com a Elilyan), mas nós ainda não chegamos lá. E quando não é um alvo, corre risco de cair no desinteresse. Ficar conversando com o vácuo. Não sei lidar muito com isso. Será que rola criar uma relação saudável e produtiva, mesmo quando as pessoas têm gostos tão diferentes? Vamos descobrir.
Quarta vantagem: fazer em equipe é mais demorado, só que sempre dá mais resultado. Vou tentar ir direto ao ponto aqui: Às vezes alguém não sabe colocar um vídeo embutido num post. É algo que dá pra fazer em um piscar de olhos. Eu faço mil vezes mais rápido do que parando pra ensinar alguém (E sem as frustrações do processo). Só que depois que a pessoa aprende, eu nunca mais preciso fazer, ela pode ensinar às outras, etc, etc. Então é muito mais produtivo parar e ensinar ao outro, do que fazer pela pessoa. Mesmo que mais trabalhoso.
Também tenho descoberto que eu (ou todo mundo?) tenho um mundo não dito por trás de cada ação. É como se eu fosse um iceberg. As pessoas só estão vendo a pontinha, enquanto a minha base é algo enorme com muita reflexão, etc. Porém, pra fazer em equipe a pessoa tem que entrar embaixo da água e ver o máximo possível. Se não fica difícil entender o que é aquela porra branca na água. É uma ilha? Uma miragem? Uma montanha? Gelo? Um urso? Dinossauros? Pior: cada um interpreta de um jeito. Um corre pra o iceberg sabendo que é uma forma de sair da água, outro corre do iceberg pensando que é perigo e ninguém vai a lugar nenhum.
Quando eu comecei a compartilhar o que tem por baixo com as pessoas, a autonomia delas no blog cresceu muito mais.
Aliás, lição: Eu tenho vontade de colocar todo mundo no blog, não passo um dia no twitter sem ver alguém que eu queria trazer pra o CC, só que é o clássico “quantidade é diferente de qualidade”. Pelo contrário, a quantidade em um sistema desorganizado acaba tendo um resultado pior. Eu ainda quero descobrir uma forma segura de trazer essas pessoas legais pra o CC, espero que a gente tenha alguma resposta pra isso em breve *já tá chamando gente mesmo assim*
Duas coisas que eu acho que me atrapalham: 1- Ordens. Eu odeio dar ordens tipo “NESSE DOMINGO. SEM FALTA. ME MANDA.” mesmo que eu tenha visto que isso pode ser eficiente. Aliás, ter um sistema simples previsível tira da pessoa todo o peso de gastar a energia decidindo, o que melhora a produtividade. ENTENDEU, CÉREBRO? Mas acho que vou burlar minha fobia de leis pedindo pra Elilyan cria-las. OLHA A VANTAGEM DA EQUIPE AÍ. 2- Mas as pessoas vão ficar excluídas??? Sem entrar no grupo ou conversar com o resto da equipe? Elas vão ajudar o blog, mas não vão realmente fazer parte do blog??? *chuta os baldes* QUE PALHAÇADA É ESSA. EU QUERO TODO MUNDO JUNTO, TODO MUNDO É IGUAL, NINGUÉM FICA DE FORA, OHANA SIGNIFICA FAMÍLIA E- Dá só uma tristeza pensar isso. Não gosto de hierarquias.
Quinta vantagem: Apoio.
Eu acho que nenhum de nós teria blog tão ativo se não fosse a equipe. Todos nós, em momentos diferentes, passamos por um período que não dava pra ficar aqui. O CC é atualizado diariamente faz muito tempo. Mas nenhum de nós tá aqui diariamente. Também dá pra dividir as funções, tipo eu falei da parceria. Um blog parece que é escrita, mas escrita toma muito pouco tempo.
Sexta vantagem: Magia.
Esse post todo foi inspirado porque eu quis procrastinar e enrolar pra fazer a coisa da layout squad. Quer dizer, o Eduardo entrou pra layout squad e ficou de ver lances das meta tags. Eu nem sabia que isso existia, o que era, que tinha nome, mas mesmo assim eu coloquei na to-do list achando que era só “descrição”. Então a Elilyan e o Eduardo me explicaram melhor o que diabos era isso. Não só isso, o Eduardo assumiu o controle e fez as coisas sozinho, foi além e viu sobre como fazer o blog ficar mais rápido. No meio disso, o João entrou organizando descrições e até eu aprendi a ver isso de sites por aí.
É isso.
É em momentos celestiais assim que a equipe vale cada frustração.
Quando as pessoas fazem o melhor sem a gente ter que pedir.
Quando você pode ir em frente sem olhar pra trás, porque sabe que tem alguém ali protegendo as suas costas.
Quando você chega em casa cansado e encontra uma newsletter cheia de coração inesperada.
Eu acho que isso é magia. Porque eu não tive que fazer nada. Não diretamente. E elas acontecem.
Pessoas são magia.