eu odeio dar dica pra os outros, então isso não é uma dica, não tô falando pra você fazer isso com você. mas tem uma observação sobre algo em formas hábitos comigo que eu tenho pensado esses dias e quero compartilhar:
formar hábitos é chato
então “compartimentalizar” ajuda.
deixa eu explicar:
o hábito que eu formei no caso foi escrever histórias todo dia. agora eu tô tentando ir pra academia 5 vezes por semana. e isso não parece relacionado, mas eu pensei: se eu consigo fazer uma coisa, por que eu não consigo fazer a outra?
“ah, mas você gosta de escrever” VOCÊ JÁ ESCREVEU NA VIDA?
EU GOSTO, MAS É UM HORROR. É SOFRIMENTO. É UMA BRIGA DIÁRIA. É MARTELAR O TECLADO. É CHORAR. É 50 ANOS DE PROCRASTINAÇÃO. É CANSATIVO.
Tenta fazer um nanowrimo (Escrever 50 mil palavras em um mês, 1700 por dia) e depois volta e me diz se é gostoso.
Pode ser que pra outra pessoa escrever seja aquela coisa idílica de sentar com o bloquinho num campo florido e, em meio a inspiração, delinear alguns versos perfeitos que enchem o seu coração de- bem, você entendeu.
Pra mim, escrever é assim:
e assim:
mas tipo muito bom e recompensador e eu gosto. são 5 da manhã e eu tô escrevendo depois de estar escrevendo e estar escrevendo. na verdade, percebi que passei umas 7 horas escrevendo.
o ponto é que às vezes é uma carroça e é muito difícil e nem tão legal e algumas vezes é uma merda completa e cheia de becos sem saída. Ou seja: é ruim e trabalhoso.
Sem falar que eu sempre sinto que tem algo novo pra aprender e que eu tenho que melhorar.
Aí agora eu estou na academia e eu só comecei faz 1 mês, mas já passei por uns momentos interessantes. Tipo os 40 minutos de aeróbico QUE NÃO TERMINAM NUNCA POR FAVOR ME MATA. Ou não conseguir mexer os braços no primeiro de semana de tão cansada. Ou estar morta de cansaço volta e meia. Ou chegar com vontade de ir embora.
O objetivo é ter o hábito de ir pra academia 5 vezes por semana toda semana.
Aí chegou o momento que estou eu numa máquina e percebo o quanto o peso é leve. Tipo, extremamente leve pra mim. O peso quase voa quando eu faço. Aí eu: não vou falar pra instrutora pra ir logo pra o próximo.
Por outro lado, eu sou muito competitiva do tipo que aposta corrida com o cara que tá correndo do meu lado sem ele saber (sempre perco). E tô lá querendo levantar o peso mais pesado da academia só pra dizer que eu posso (no momento tô no mais leve).
Aí refletindo sobre isso, eu comecei a me dar permissões pra ir devagar.
E isso me fez lembrar lá pra os dias de NaNoWriMo e escrita.
O hábito não vem da qualidade do que você tá fazendo, da quantidade, ele vem de você ir até lá e fazer o troço. Depois que você vai lá fazer o troço inúmeras vezes, você vai ficando melhor em fazer o troço até que fazer o troço vira um hábito – não é mais um esforço consciente, você procura fazer até quando não faz.
Meio que na academia da vida, “ir fazer o troço” é um tipo de exercício diferente que exige um esforço próprio.
Eu nunca tinha preocupação, agora tenho que sair de casa todo dia, ir até lá. Envolve uma dúzia de coisas pequenas tipo: jesus, qual é o momento melhor pra comer antes de ir pra não passar mal lá e vomitar a comida, mas também pra não passar mal de fome? Roupa de academia. Água na geladeira. Etc.
No caso da escrita, um problema enorme: fazer as pessoas, o mundo e você mesmo reconhecer que esse é o SEU momento de escrita e não é pra chegar falando, marcar coisa junto. É tipo um trabalho, tu não falta pra ir pra festa pra os amigos, no dia seguinte porque ficou dormindo, no outro porque saiu série no netflix, no outro porque tinha trabalho da faculdade (insira aqui razões eternas); então não falta a escrita também. Isso não é nem escrever em si, mas é um trabalho enorme pra entender e fazer.
Só que tudo isso leva energia e exige esforço, mesmo quando a gente não percebe.
O que acontece é que muita gente, até por não ter consciência disso, quer chegar em algo que não tem costume sendo o pica das galáxias. Então você aí tá carregando 1) o peso do troço 2) o peso de IR FAZER o troço 3) o peso de fazer o troço bem. Resultado: falha totalmente e não consegue manter o hábito.
Muito provavelmente fica exausto e acaba parando.
Então eu percebi que formei meu hábito de escrita compartimentalizando. Ok, eu não tô aqui pra ser boa, eu tô aqui pra só fazer.
Pronto, coloquei minhas 1700 palavras no papel.
Pronto, eu vim fazer o troço.
E depois de anos fazendo isso, o peso de “ir fazer” foi ficando mais leve e eu pude usar minha energia pra outras coisas, tipo melhorar a escrita.
Além disso, tornar o hábito de “ir fazer” melhor, mais agradável, ajuda. E às vezes isso é se deixando escrever histórias bobas sem fim por diversão. Escrever muita fanfic. Conversar com as pessoas sobre. Participar dos desafios. Fazer coisas que o objetivo não era ser bom ou nem terminar ou nem publicar nem nada, mas só fazer. Coisas tangíveis.
Agora na academia, refletindo sobre os pesos mais leves e os pesos mais difíceis e brincando sozinha com a regulagem e até com a ordem dos aparelhos, eu pensei comigo mesma: agora o importante é que eu tô aqui.
Hoje é um dia que por acaso eu tava bem e tinha tempo pra fazer o que quisesse (ficar 50 anos descansando depois de fazer algo) e vi que numa máquina o peso “ideal” é uns 30kg a mais do que eu tô fazendo, mas se eu fizer isso todo dia, não só vou demorar mais, como vou ficar cansada. E ir pra academia vai se tornar chato.
Eu não tô ali pra ser uma atleta – e apesar da ansiedade pra sair fazendo tudo o melhor possível – eu sei que como rotina fica pesado. E chato. E às vezes eu não quero nem ir, quero só voltar pra casa e isso vai ficar no caminho.
Então acho que o resumo é: pra criar hábito, talvez seja legal focar em CRIAR O HÁBITO acima do que você tá fazendo. Não se importar tanto se tá fazendo bem, perfeito, ou até como. Só faz. Se tá cansado, vai lá e faz qualquer merda, mas faz. Procura como se divertir, mas faz. Pensa na qualidade envolvendo criar um momento legal na sua vida – como você pode fazer isso? Não se matando e ficando exausto, ou fazendo coisa chata ou de qualquer jeito.
Uma coisa que eu fiz, por exemplo, é começar a ouvir podcast durante o aeróbico. Eu nem gostava de podcast, mas acabou que (por enquanto) é a coisa perfeita pra me distrair por 40 minutos. Às vezes eu escuto nos primeiros 20 e leio durante os outros 20. Quando eu tô muito animada com umas músicas, levo pra escutar. Só sei que isso transforma totalmente e agora eu tô no ponto até de QUERO IR PRA ACADEMIA PRA PODER OUVIR ESSE PODCAST. (sinceramente, acho que se sala de aula em vez de cadeira comum fosse uma bicicleta ou qualquer máquina aeróbica eu ia conseguir prestar atenção nas aulas e não morrer de tédio)
Enfim, espero que eu crie esse hábito e continue sendo bom. Espero que eu melhore meu hábito da escrita.
E espero que eu continue sendo gentil comigo mesma e cuidando de mim em primeiro lugar.
A questão de hábito é que é a nossa vida. É estilo de vida. É aprender a viver diferente. Só que se a gente vai “viver diferente” fazendo algo exaustivo e que é ruim, não dá certo mesmo. Então criar um momento bom ajuda.
~Lembrete de que criar um novo hábito por si só exige energia e vale a pena celebrar mesmo que você faça tudo ruim~