Fui fazer o texto sobre a semana do ConversaCult e acabei fazendo uma análise da segunda temporada de Arrow. Acontece.
obs: eu aviso onde tem spoilers.
Pde ser lido por quem não assiste Arrow. Eu também aproveitei pra colocar aqui meus pensamentos sobre representatividade feminina na série agora que eu terminei de assistir.
Bem, primeiro deixa eu falar de Arrow, que nas últimas vezes eu falei que tava assistindo. Da última vez pra cá: FICOU MUITO BOM. Fiquei até aliviada, porque quando comecei a assistir a segunda temporada não tava entendendo nada. O QUE EU VIA NESSA SÉRIE? Mas conforme as coisas andaram ficou bem melhor.
Tava conversando com a minha amiga e acho que o problema de Arrow é que às vezes eles jogam algumas coisas sem desenvolver e querem que a gente acredite. Tipo na finale da S1 um personagem morre – uma morte babaca. Em vez de finalizar direito a história da temporada, eles simplesmente colocam essa morte e cortam tudo. Fiquei muito irritada. Pensei que tinha esquecido de assistir um episódio. Mas não, era aquilo mesmo. Aí começa a segunda temporada e: o drama é em cima dessa morte.
NÃO DÁ. Não adianta me dizer que é X, quando você me mostra Y.
Pra dar uma ideia do que eu to falando, é tipo um personagem dizer que ama o outro, só que não tem nenhuma cena deles se amando, se importando, mostrando carinho ou até mesmo ser o assunto relevante da trama. Simplesmente o personagem diz isso do além algum dia e fica nisso como se a gente tivesse que aceitar. O problema é que, pra mim, parece falso. Não me convence que aquilo é verdade. Não me leva na história.
Então volta e meia Arrow dá uma dessas. Tipo uma cena ótima em que a Felicity (hacker gênio da equipe de super-heróis) diz para o Oliver (o Green Arrow) que não é só a secretária dele, que não vai levar café e nada. O que eu imagino que seja muito uma conversa dos próprios criadores da série às críticas na internet sobre a primeira temporada, onde parece que a Felicity é a mulher secretária e o Diggle é o motorista melhor amigo negro. Eles se esforçam pra mudar isso na segunda temporada, dando episódios, inclusive, focados nesses personagens e inúmeras vezes colocando eles em posição de valor. Uma dessas vezes é esse episódio onde a própria Felicity briga com o Oliver dizendo que não é a secretária dele. E, de jeito nenhum, vai se submeter a levar café.
1 segundo depois do discurso ela tá indo ver algo pra ele e o episódio termina com ela levando o café. Que seria super legal, num gesto de “você mereceu” ou “eu faria isso por você” depois que o Oliver supera o drama do episódio, mas no fim do dia… reforça ela como secretária.
Então, Arrow, não adianta me dizer que é X se você me mostra Y.
E não é só com esse lance da secretária que Arrow faz isso. A morte que eu falei é um exemplo, principalmente que o drama todo da S2 começa sustentado nisso, ou seja, em nada.
Mas o que acontece é que depois deles jogarem essas coisas do além, eles começam a construir o desenvolvimento do personagem em cima disso – e isso eles fazem bem. Muito bem.
A série tem vários personagens e duas storylines que se interligam (uma no passado do Oliver quando ele esteve preso em uma ilha, outra no presente), então fica bem dinâmico e é legal ver os mundos se encaixando. Um deles, por exemplo, é o do Diggle – que aí vemos o passado dele no exército, conhecemos Amanda Waller e o Esquadrão Suicida. Também surge a Canário Negro, que traz A Liga dos Assassinos. E o Roy, aprendiz de super-herói. Volta e meia temos uma história que se relaciona com um vilão da S1, aprofundando o universo.
Aliás, a entrada do Flash (a primeira aparição dele é nessa segunda temporada de Arrow) foi muito boa. Uma das origens de super-heróis mais legais que eu vi com atores reais, porque não é aquilo de “primeiro filme do herói” – você tem o universo estabelecido de Arrow, que tem uma pegada mais cotidiana já que ele não tem superpoderes, e aí você vê o surgimento desse outro herói.
Inclusive, essa segunda temporada de Arrow marca a aproximação da série com o lado sobrenatural dos heróis. Pensa comigo, Arrow é um personagem da DC que existe no mesmo universo do Super-Homem (um alienígena que voa), da Mulher Maravilha (uma semideusa praticamente vinda da mitologia grega) e do Batman. Só que o Oliver Queen é um cara que depois de um naufrágio ficou preso em uma ilha e levado a situações absurdas de sobrevivência durante 5 anos, então quando ele volta é tipo… um super-herói. Mas principalmente os outros personagens, são mais algo CSI cotidiano, então quando surge algo como alguém atingido por um raio, pessoas voltando da morte e pessoas com superforça… é bizarro.
Uma das coisas mais legais de Arrow é justamente essa conexão entre os dois mundos. Às vezes em alguns episódios parece que eu to realmente lendo algo nos quadrinhos, uma aventura aleatória de um super-herói. Filmes não dão tanto essa sensação, acho que por causa do tempo. Eles são 2 horas e uma história só: VAI, CORRE. Eles precisam também interagir com o público que tá assistindo. Não dá pra ficar muito bizarro e caricaturado como nos quadrinhos.
Acho que a melhor forma de entender isso é através dos uniformes.
Nos quadrinhos, parece um baile a fantasia. Ninguém usa de verdade isso. Imagina que bizarro se a Feiticeira Escarlate fosse assim. Só que de algum modo isso funciona.
Nos filmes, não. Mas nas séries… dá pra ter um misto agradável entre os dois mundos.
obs: isso acontece com os uniformes, mas não se limita a eles. tem mais coisas que funcionam nos quadrinhos e não nas telas.
Uma das coisas que eu mais gostei nessa temporada foi a Laurel Lance. Ela é, tipo, a típica namorada de super-herói. Por algum motivo eu sempre gostei dela. E nessa segunda temporada ela recebeu uma trama mais do que – a adorada pelo super-herói – e aquela coisa chata de “eu te amo, você me ama, então não vamos ficar juntos”. Depois da parte chata do início (como eu disse, drama vindo do além), eles começam a desenvolver como todos esses dramas afetam ela e destruir a personagem.
Só pra caso você não saiba, a Laurel namorava o Oliver Queen quando ele saiu na viagem que ocorreu o naufrágio. Só que quando ela fica sabendo – ela descobre não só que perdeu o namorado, mas que a irmã dela, que foi na viagem com ele (sim, Oliver estar traindo Laurel com a irmã), também morreu no acidente. Então ela perde namorado e irmã. O pai fica tão mal que se torna alcoólatra, a mãe acaba largando a família e indo pra outra cidade. Resumindo: Laurel perdeu tudo. E de algum modo segurou o tranco.
Mas quando Oliver volta, ela começa a rachar e isso vai culminando até essa segunda temporada, quando Laurel desaba de fez. Só agora escrevendo isso eu percebi o quanto a linha temporal dela faz sentido. Assistindo a série, acho que isso não ficou tão claro no início – e aposto que muita gente achou a personagem chata. OLHA, ESCRITORES DE ARROW, COMO QUANDO VOCÊ CONSTRÓI A HISTÓRIA DIREITO AS COISAS FAZEM SENTIDO.
Como disse a minha amiga: “As coisas estão lá, você consegue entender se parar pra pensar, mas tem esses buracos de vácuo”
Cara, e eu adoro histórias que não perdem tempo explicando as coisas, mas não consigo deixar de sentir uns buracos em Arrow.
Enfim, o que a série mostra bem é a Laurel desabando. Ela começa a usar remédio, buscar vingança e fazer coisas idiotas. E isso é muito legal, não só por mostrar a personagem sofrendo e tendo que lidar com esse momento sem saber o que fazer na vida, mas também porque isso é em paralelo com a linha narrativa. Laurel continua ativa tentando desvendar mistérios da trama, só que ela é constantemente desvalidada. Ok, eu preciso dar um spoiler do meu momento preferido: ATENÇÃO SPOILER quando ela vai investigar o prefeito Blood, que descobre o que ele fez com a própria mãe, e o pai da Laurel se recusa a acreditar nela porque encontraram drogas no apartamento dela. É um momento não só a personagem sente na própria pele como o vilão trabalha, como ela é quebrada de vez quando não consegue acreditar em si mesma. ATENÇÃO SPOILER
Essa trama da Laurel pra mim foi toda ótima. E é um certo alívio, porque Arrow é uma série de super-heróis, com luta, ação e dilemas de herói, e no meio disso tudo ela acaba trazendo uma pegada humana pra história. E passar por um desenvolvimento A+ que continua na terceira temporada E TODOS NÓS SABEMOS ONDE TERMINA.
Falando assim parece até que ela é a minha personagem preferida… HAUHAUHAUH
Falando em personagens preferidas: Canário Negro.
por comparação, nos quadrinhos:
Aquilo que a minha amiga disse sobre buracos foi, na verdade, quando conversávamos sobre o desenvolvimento da Canário. Eu tava falando que parece que a ordem da história dela tá trocada: começa, vai pra o fim e termina no meio.
(spoiler)
Porque ela aparece na cidade como A ASSASSINA. Eles fazem até de um jeito que não dá pra saber se ela é vilã ou super-heroína. E ela acaba sendo o contraste em relação ao Oliver pra moldar a história dele: a Canário é o lembrete de quem ele era quando chegou da ilha, o que ele queria ser diferente. Nós vemos ela matando um vilão de boa.
Aí na metade da história, quando o foco é mais na própria Canário, a Liga de Assasinos e contar pra família, o drama da Canário é que ela justamente queria sair da Liga porque não aguentava mais matar.
Você aparece toda assassina e agora tá dizendo que fugiu dos assassinos porque não queria mais matar? Se forçar a cabeça, dá pra imaginar que ela aprendeu algo vendo o Oliver, que mudou de ideia, que demorou um pouco a mais pra descobrir que não precisava matar pessoas (e, de fato, um dos medos dela em contar pra o pai é porque ela não queria que ele visse em que se transformou). Mas isso não é exatamente mostrado. De qualquer forma, ok. Finjo que acredito.
E vou fingir que não reparei que, depois de revelar que é uma assassina e o pai dizer que é ok, ela fica insegura SE O PAI VAI ACEITAR ELA TER FICADO COM OUTRA MULHER. Porque, claramente, é muito pior aceitar que alguém beija pessoas do mesmo gênero do que aceitar alguém que mata pessoas (a pior parte é que deve ser mesmo) (mas essa é a única menção ao caso dela com a Nyssa na série, e é mostrado dessa maneira…)
Ela consegue se livrar da Liga dos Assassinos, e “ok, vida boa! não é assassina!”
Aí na parte final nós, finalmente, vemos a Canário lidar com esse conflito do “mato ou não mato?” e aprender com o Oliver a diferença. A Laurel também é importante em mostrar pra que ela não tá num buraco sem volta. Esse é o diferencial. Dessa vez nós vemos acontecer.
Para era concluir que deve mesmo ir com os assassinos…
…
…
…
Mas fora esse detalhe, foi legal ver isso. Gostei.
(fim do spoiler)
No final da temporada eu nem queria mais largar a série. Fiquei louca pra correr pra terceira temporada (mas tive que esperar…) (e agora já comecei, JÁ VÁRIAS OUTRAS PRA COMENTAR)
Sobre representatividade, que eu comentei no outro texto, a minha opinião geral não mudou muito. Algumas coisas fizeram a diferença, tipo a Nyssa que apareceu no primeiro episódio depois de eu ter escrito o texto, mas ainda continuaram surgindo outros contra. Tipo a Felicity. Quem ela é? Onde ela vive? Ela tem família? Ela tem uma vida não-Oliver? A terceira temporada já está melhor nisso. A própria segunda temporada: a finale é cheia de mulheres envolvidas, com papeis relevantes. Aliás, minha parte preferida foi a da Thea. Também adorei do Oliver barrando a Laurel no clássico “isso é assunto de herói, espera em casa”, mas levando junto a Felicity, porque “estamos nisso juntos”. Foi a melhor desconstrução da síndrome de protetor do herói que eu já vi. Viu? Não é tão difícil. Quando você tem representatividade (e diversidade) de mulher o bastante, não cria estereótipos. A melhor parte: a Laurel sempre liga o foda-se e vai mesmo assim. Mas ainda tem problemas: por que só uma mulher é injetada com o mirakuru? (síndrome smurfette) E tem o lance da força vir dos homens, mas tenho que explicar melhor o que eu quero dizer com isso, porque ninguém entende. HAUHAUHA Arrow claramente quer ser feminista e se esforça para dar destaque e poder às mulheres. Isso significa que eles vão mais longe do que… todas as adaptações de histórias de super-heróis que eu conheço. (ainda não assisti nenhuma outra série, no momento estou na metade de Demolidor e Arrow está anos-luz na frente nesse quesito)
e precisava mostrar a Felicity insegura por causa da outra mulher? amizade não rola? empoderamento entre as mulheres? (mas, pra constar, é legal ver ela passando por cima da insegurança)
adoro arrow
Então… acho que é só. Agora vou assistir a S3 que to louca pra fazer isso o dia todo.